domingo, 7 de fevereiro de 2010

Temer diz que não faz questão de ser vice


Em entrevista a Christiane Samarco , o presidente reeleito do PMDB e presidente da Câmara, Michel Temer (SP), adverte que a aliança com o PT na corrida sucessória não pode ser dada como fato consumado: “Não faço questão de ser vice. Nem vice, para mim, é coisa de vida ou morte.”

Diferentemente do que ocorreu quando assumiu a presidência da Câmara, este ano ele não se licenciará do comando partidário, para estar à frente das negociações. “É pleito de todos que eu presida o partido”, adianta nesta entrevista ao Estado.

Temer aposta que o prazo para a definição da aliança e do vice é abril. Como os petistas começam a discutir o programa de governo, vai logo avisando que seu partido não aceitará prato feito, revela a reportagem. Confira trechos da entrevista ao Estado:

P- Fechada a aliança com o PT, o senhor faz questão de ser vice?

R-Absolutamente não. Não tenho nenhuma pretensão em relação a isso. Muitas vezes dizem que quero ser vice, e grifo a expressão quero, quando isso é fruto de uma conjuntura política do PMDB. Isso só vai se decidir lá no futuro, mas volto a dizer que não tenho pretensão como se fosse uma coisa de vida ou morte. Não é. Com a nova direção fechada com a candidatura Dilma, a aliança já é fato consumado para o PMDB?

A grande maioria do partido hoje pode optar por uma aliança dessa natureza. Mas nós, os membros da Executiva eleita agora, somos obrigados a atender a todas as tendências. Estamos no rumo da unidade quase absoluta, mas não podemos desprezar outras teses que serão discutidas. Reconheço que a tese predominante é a da aliança, dependendo ainda de uma série de circunstâncias. Uma das circunstâncias é a solução dos Estados em que há disputa entre PT e PMDB.

P-A aliança não é fato consumado?


R-Não é nem pode ser ainda. Neste momento, nem a candidata ainda o é. Portanto, é preciso esperar o lançamento da candidatura e, depois, as articulações que faremos nos Estados. Quero ressaltar que, se o PMDB vier a fazer esta aliança, fará uma aliança programática. Verifiquei que o Congresso do PT poderá aprovar desde agora o programa do governo, mas esse programa terá de ser um amálgama daquele que o PMDB vier a apresentar.

P-Existe a possibilidade de a aliança não se consolidar em junho?

R-Não quero avançar nenhuma perspectiva. Tenho ressaltado é que há três teses no partido. A da candidatura própria, a do apoio ao candidato tucano José Serra, nunca ignorando que a da aliança com o PT é a preponderante. O pré-compromisso estabeleceu que o vice seria do PMDB, que o PMDB participaria do plano de campanha e de governo e que solucionaria as questões estaduais. Tudo isso está sendo encaminhado, mas terá de se consolidar para consolidar-se a aliança. [
P- Ainda falta alguma coisa para que essa aliança se feche de vez?

R-Há condicionantes por parte do PMDB, como podem haver do lado do PT. São naturais. O partido tem de sentir-se absolutamente satisfeito para não ser uma mera adesão e sim uma coalizão que não se dará pela primeira vez no instante do governo, mas no da eleição.

P-Mas quando se discute a vice e o PMDB briga por isso passa a impressão de que está disposto a fazer uma aliança a qualquer preço.

R-Não é a qualquer preço. É ao preço de um programa para o País, de participação no plano de campanha da candidata. Ainda passa por esses fatores.

P-O sr. quer dizer que, em relação ao programa que o PT quer discutir, o PMDB não aceita prato feito?

R-Evidentemente, não podemos dar palpites em relação à discussão do programa dentro do PT. Isso é fruto da autonomia do partido. O que queremos é levar adiante o pré-compromisso pelo qual juntaríamos os programas dos partidos para que saísse o plano de governo.

P- A que atribui a resistência de setores do PT a sua indicação a vice? O problema foi a citação de seu nome na Operação Castelo de Areia, da PF, levantando suspeita sobre doações ilegais de campanha?

R- Se provêm do PT, essas objeções, são equivocadas porque não há candidatura a vice. Isso se estabelece no momento da aliança. O PMDB também não quer indicar um nome que, ao invés de enaltecer a aliança político-eleitoral, a desmereça.

P-Diante dessas resistências, o senhor teme ataques que o desgastem politicamente?

R- Não tenho a menor preocupação em relação a isso e tomei até providências judiciais exatamente em face da inexistência de temor. Essas coisas já foram ditas e, convenhamos, não colaram. Se o objetivo era fazer colar isso em mim, não colou. Se houvesse preocupação, haveria de ser de natureza política. Muitas vezes o partido da candidata pode dizer “olha, preferíamos um outro vice”.

P- Setores do PT dizem que não podem expor a candidata porque o senhor poderia repetir o senador Guilherme Palmeira, que em 1994 renunciou à vice de FHC. Esse temor é real ou a questão é política?

R- Acho de uma maldade extrema essa espécie de afirmação. Reitero que não tenho nenhuma preocupação em relação a isso e penso que essa minha afirmação enfática levará a candidata e o PT à despreocupação absoluta. Até repudio essa espécie de insinuação que, na ausência de fato concreto, não tem característica moral e sim política. Muitas vezes é utilizada com o objetivo de tentar provocar um afastamento.

P- Existe a possibilidade de a convenção optar por outro rumo, como a candidatura própria ou o apoio ao candidato do PSDB?

R- Reitero que não sei o que vai acontecer na convenção. Tem vários meses pela frente. Tudo dependerá muito da relação política que se estabelece entre o PMDB e o PT.

P- O nome do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi lembrado para vice com o apoio de Lula. Ele está sendo cogitado no partido ou isso nunca existiu?

R- Cogitação não existiu, mas quero ressaltar as qualidades do Henrique Meirelles, pela experiência que teve na iniciativa privada e que tem hoje no setor público. Ele também é dos tais que podem ocupar qualquer cargo público no País.

P- O PMDB aceitaria um cristão novo para ocupar a vice? Precisaria ser mais identificado com o partido?

R- Talvez a dificuldade seja essa, mas seria a única.

P- Independentemente de ser o senhor ou não o candidato a vice, o PMDB admitirá interferência do PT nessa escolha?

R- O PMDB vai dialogar para escolher o vice, mas evidentemente não vai admitir interferência. É claro que haverá diálogo e troca de ideias, mas o partido será autônomo.

C / Agência Estado

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