Um dia depois de permanecer seis horas no tribunal, para explicações sobre a invasão do Iraque, o ex-ministro britânico Tony Blair recebeu em Londres, neste sábado (30), o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), à procura de cooperação e experiência internacional para a organização da Olimpíada de 2016 no Rio.
No encontro, ficou decidido que Blair prestará consultoria ao comitê de organização dos jogos cariocas.
Cabral escolheu Londres porque a cidade sediou a Olimpíada de 2012 e Blair porque isso aconteceu no seu mandato como primeiro-ministro. Segundo o governador, Blair começa a trabalhar em maio, mas o governo estadual não custeará os serviços. Ele quer que empresários patrocinem a contratação do britânico.
No final do ano passado, Cabral anunciou a contratação do ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, como consultor. Conhecido pela redução da violência na cidade americana com a política de "tolerância zero", ajudaria no planejamento de ações de segurança para a Olimpíada e para a Copa de 2014.
No entanto, Cabral teria desistido ao receber um orçamento muito alto do americano.
E Blair, vai sair barato? Segundo o governador, os honorários não foram definidos, mas o investimento ajudaria a aperfeiçoar o planejamento dos jogos.
Para o britânico o convite chega em boa hora. Neste sábado, os jornais da Europa trazem manchetes sobre o seu depoimento à comissão de inquérito sobre a guerra do Iraque, durante o qual negou ter arrastado o país com base em falsos argumentos ou para agradar aos americanos.
Blair negou que tenha feito um “pacto secreto” com George W. Bush, quando visitou o seu rancho no Texas, na Primavera de 2002.
A suspeita foi lançada pelo ex-embaixador em Washington Christopher Meyer, que disse ter sido acordado nesse enontro a queda de Saddam Hussein. As armas de destruição maciça, garantiu o diplomata, foram a justificação encontrada pelos dois países para justificar a invasão.
Semanas após a invasão, os militares concluíram que o ditador iraquiano não escondia qualquer arma química ou biológica. Mas Blair insiste que todas as informações disponíveis até março de 2003, indicavam o contrário.
No início deste ano, graças a essa e outras contradições, Blair foi incluído pelo observador político internacional Moisés Naim, editor da prestigiada revista Foreign Policy, dos EUA, na lista de "alguns dos grandes hipócritas de 2009" publicada no El País.
Naim lembrou que, em 2009, o ex- primeiro- ministro britânico reiterou sua profunda repulsa pelos ditadores e explicou que ainda que Sadam Hussein não tivesse armas de destruição maciça se justificava a guerra, já que era uma ditadura inaceitável que devia ser derrotada. "Isto ocorreu poucos días depois de Blair se reunir em Azerbaiyan com seu ditador Ilham Aliyev " observou o articulista.
Em sua visita a Azerbaiyan o líder britânico, ainda segundo Naim, não fez nenhum comentário sobre as reiteradas violações dos direitos humanos atribuídas ao seu cordial anfitrião.
"É que, como informa Josh Keating ( jornalista também da Foreign Policy), o propósito de sua viagem era outro: fazer um bem remunerado discurso na empresa do empresário mais rico do país (surpresa: o empresário é um bom amigo do ditador)" concluiu Naim.
C/ BBC Brasil e El País
O Blog: Essa contratação ( sem valores e sem definir quem vai bancar) não está bem explicada. Será que Blair vai detonar a guerra do narcotráfico no Rio?
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