O jornal O Estado de S. Paulo ganhou na noite desta terça-feira(8), o Prêmio Esso de Reportagem com a série "Dos Atos Secretos aos Secretos Atos de José Sarney", escrita pelos repórteres Rosa Costa, Leandro Colon e Rodrigo Rangel, jornalista capixaba radicado em Brasília. Em sua 54ª edição, o Esso é o prêmio mais prestigioso e tradicional do jornalismo brasileiro. O material do Estado sobre o caso Sarney venceu 1.091 trabalhos inscritos.
A série sobre os atos secretos teve início dia 10 de junho com a manchete "Senado acumula mais de 300 atos secretos para criar cargos". O jornal mostrou que grande parte desses boletins sigilosos envolvia familiares e aliados do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), entre eles sobrinhos e até o namorado da neta.
Com a divulgação dessa prática de esconder medidas internas, o Senado passou a publicar suas decisões administrativas no Diário Oficial da União e o Ministério Público e a Polícia Federal abriram inquérito. O ex-diretor Agaciel Maia, mentor desses boletins sigilosos, responde hoje a um processo disciplinar que poderá levá-lo à expulsão do serviço público.
Na mesma série, o Estado revelou ainda que um neto de Sarney vendia créditos consignados dentro do Senado por meio da Sarcris Consultoria, Serviços e Participações Ltda. A empresa recebeu autorização de seis bancos para intermediar a concessão de empréstimos aos servidores. Ao Estado, o neto de Sarney disse que seu "carro-chefe" no Senado era o banco HSBC. Indagado sobre o faturamento anual da empresa, afirmou: "Menos de R$ 5 milhões."
No começo de julho, reportagem mostrou que Sarney ocultou da Justiça Eleitoral a casa onde vive em Brasília, avaliada em R$ 4 milhões. De acordo com documentos de cartório, o parlamentar comprou a casa do banqueiro Joseph Safra em 1997 por meio de um contrato de gaveta. Em nenhuma das duas eleições disputadas por ele depois da compra - 1998 e 2006 - o imóvel foi incluído nas declarações de bens apresentadas à Justiça Eleitoral.O senador alegou que houve um "erro" do contador.
O próximo alvo da investigação jornalística foi a Fundação José Sarney. A reportagem do Estado revelou que a entidade desviou, pelo menos, R$ 500 mil de patrocínio de R$ 1,3 milhão da Petrobrás para empresas fantasmas, de fachada ou da família do senador. O dinheiro deveria ser usado para um projeto de digitalização do acervo, mas a proposta nunca saiu do papel. Em novembro, Sarney anunciou que decidiu fechar a fundação por falta de recursos.
No dia 22 de julho, o jornal voltou ao tema dos atos secretos. Gravações feitas pela Polícia Federal com autorização da Justiça mostraram Sarney conversando com o filho Fernando Sarney sobre a nomeação do jovem Henrique Dias Bernardes, então namorado de Maria Beatriz, neta do senador.
No dia 31 de julho, o desembargador Dácio Vieira (foto), do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, decidiu censurar o Estado ao acolher pedido de liminar de Fernando Sarney para proibir o jornal de publicar informaçóes sobre a investigação da Polícia Federal contra ele. No dia seguinte, o jornal mostrou que o desembargador era do convívio social da família Sarney, conforme comprovou foto em que o magistrado aparece ao lado do senador no casamento da filha de Agaciel no dia 10 de junho, mesmo dia da revelação dos atos secretos.
Alvo dessas acusações, Sarney foi pressionado a renunciar ao cargo de presidente do Senado. Chegou a tomar essa decisão, mas recebeu o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que obrigou o PT a defender o senador. Sarney foi alvo de 11 pedidos de processos por quebra de decoro no Conselho de Ética do Senado, mas num acordo político com a oposição, salvou-se de ser punido pelos colegas.
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