Jefferson Melo, 43 anos, nascido em Venda Nova do Imigrante- colonizada por italianos- bem que tentou driblar a crise no mercado imobiliário britânico, mas perdeu quase 2 milhões de libras (aproximadamente R$ 6 milhões) do seu patrimônio, estimado em R$ 64 milhões.
Hoje, ele suspira aliviado, mas não foi fácil sair do olho do furacão.
Sua história é contada neste fim de semana pelo portal da BBC Brasil, que entrevistou o capixaba em 2008 como proprietário bem-sucedido de mais de 60 casas em Londres, antes do efeito devastador da crise sobre suas finanças.
Há três meses, ele se viu com 22 dos seus quartos desocupados, situação que nunca tinha vivido desde 2000, quando começou a comprar casas para alugar. No máximo eram seis. O capixaba perdeu mais de 40 inquilinos, da clientela cuja maioria é formada por brasileiros.
Ele conta que muitos voltaram para o Brasil porque perderam o emprego, porque o controle da imigração apertou ou atraídos pela reação do país de origem diante da crise.
Para escapar dos prejuízos, Jefferson baixou o preço do aluguel e, para atrair inquilinos, aumentou o número de anúncios em revistas de outras comunidades estrangeiras e na internet.
Foi salvo, revela, pelo Banco da Inglaterra (o banco central britânico) que diminuiu os juros e pela queda das prestações dos empréstimos das casas.
Em 2008, Jefferson disse à BBC Brasil que o melhor ano do seu negócio havia sido 2007, quando comprou e reformou 20 casas. Na época, fez planos de ampliar o patrimônio com a compra de mais imóveis.
Mas o cenário do mercado imobiliário sofreu drástica mudança após a entrevista. A queda do banco americano de investimentos Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, simbolizou o colapso do sistema financeiro global e congelou o mercado de crédito em todo o mundo.
O banco britânico que, durante oito anos, ofereceu os empréstimos para que Jefferson pudesse construir seu império imobiliário em Londres, suspendeu os financiamentos.
"Desde o ano passado, não comprei nenhuma casa. Meu banco não empresta mais dinheiro, e os outros não têm ofertas atraentes. Hoje, para conseguir um financiamento, você tem que dar entrada de 25%. Não vale a pena", diz ele.
Agora, um ano após o início da crise, o brasileiro começa a suspirar aliviado. Atualmente tem apenas quatro quartos vazios, de um total de 360, uma situação normal até nos tempos de bonança.
Jefferson volta a alugar vagas para brasileiros, que, segundo ele, regressam a Londres, e também conquista imigrantes de outras nacionalidades, como poloneses, portugueses e espanhóis. Não ficou imune às turbulências da recessão, mas acredita que o pior passou.
"Mesmo com as dificuldades, não precisei vender nenhuma casa e mantive todos os meus funcionários", conta Jefferson, que criou há alguns anos a empresa JM Lettings & Management para administrar o negócio.
"O que eu tenho é suficiente para pagar os empréstimos, funcionários e tirar meu salário. Agora é esperar o mercado se normalizar e tentar voltar a investir no ano que vem", planeja.
Nascido em Venda Nova do Imigrante, ele chegou à Grã-Bretanha em 1991, em visita à noiva, brasileira filha de britânicos. Convencido por um amigo, resolveu tentar a vida em Londres.
Nos nove anos seguintes foi jornaleiro, supervisor da rede Burger King, taxista e motoboy até comprar uma casa para alugar, em 2000. "Foi um tiro no escuro, não sabia o que estava fazendo", disse ele na entrevista à BBC Brasil, ano passado.
Naquela época, já casado, Jefferson e a mulher tinham alugado dois dos três cômodos da casa em que moravam para amigos brasileiros e decidiram apostar no negócio. Desde então, ele adquiriu dezenas de propriedades, a maioria no leste de Londres, hoje ocupadas por mais de 400 inquilinos.
Na última entrevista à BBC Brasil, Jefferson disse que um de seus maiores sonhos era comprar uma casa na praia, porque é do mar que ele mais sente saudade.
O sonho continua vivo, diz ele. A crise só adiou os planos.
C/ informações publicadas da BBC Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá, seja bem vindo! Deixe aqui seu comentário, e não esqueça de se identificar clicando em "Comentar como", e escolhendo a guia "Nome/URL". Grande abraço!