O universitário Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, de 24 anos, queria sequestrar o cartunista Glauco, segundo parentes da vítima contaram ao chegar à Delegacia Seccional de Osasco. Glauco e seu filho, Raoni, foram assassinados na madrugada desta sexta-feira, 12. Frequentador da Igreja Céu de Maria, fundada pelo cartunista, Sundfeld queria que Glauco o acompanhasse até a casa de sua mãe, no Pacaembu, zona oeste, para dizer a ela que o rapaz era "Jesus Cristo."
Segundo o relato desses parentes, Sundfeld estava transtornado, armado com uma pistola 7,65 mm, e primeiro rendeu a filha do cartunista, Juliana. Ela chamou pela mãe e Glauco também foi ao local. Sundfeld chegou a agredir as duas mulheres e deu uma coronhada no cartunista, a quem costumava pedir conselhos. O rapaz ameaçou se matar e Glauco lhe disse para "não fazer isso."
Nessa hora, Raoni chegou e viu o pai ensanguentado. Foi aí que Sundfeld acabou disparando a pistola dez vezes. Quatro tiros atingiram o cartunista e outros quatro, Raoni. Os dois chegaram a ser socorridos, mas não resistiram aos ferimentos.
Esses mesmos familiares que relataram o ataque de Sundfeld acreditam que havia uma segunda pessoa no Volkswagen Gol usado pelo suspeito. A polícia fez buscas nas casas do pai e da mãe de Sundfeld, no Alto de Pinheiros e no Pacaembu, mas não localizou o rapaz.
Glauco Villas-Boas, paranaense de Jandaia do Sul, começou a carreira de cartunista ainda na década de 70, meio por acaso. Na época, ele tinha se mudado para Ribeirão Preto e iria prestar vestibular para Engenharia.
No entanto, no meio do caminho acabou conhecendo o jornalista José Hamilton Ribeiro que adorou o seu trabalho e o contratou para fazer tiras no Diário da Manhã, de Ribeirão Preto. Foi o início de "Rei Magro e Dragolino", que contava as histórias do personagem Dragolino e de um rei. Eles viviam numa era hippie, cheia de loucuras.
Pouco depois, em 1977 e 1978, Glauco foi premiado no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, e passou a ter algumas tiras publicadas na Folha de S. Paulo. Em 1984, quando a Folha começou a dedicar mais espaço aos cartunistas brasileiros, o paranaense foi chamado para publicar seu trabalho com mais frequência no jornal.
Criador de personagens como "Geraldão", "Netão", "Dona Marta", "Ficadinha" e tantos outros, Glauco aliava um humor ácido com a caricatura, herança trazida da época em que fazia desenhos de todo mundo, do professor aos amigos mais próximos. Fiel ao traço peculiar, Glauco desenhava com nanquim no papel e só usava o computador para colorir suas tiras.
Desde 2000, o cartunista mantinha os personagens "Ficadinha", que saía aos sábados, e "Netão", publicado às terças e quintas. Seus quadrinhos também eram republicados pelas editoras Opera Graphica e L&PM. Durante sua carreira, Glauco também fez parte da equipe de redatores dos programas TV Pirata e TV Colosso, da Rede Globo.
C/ Agência Estado
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