sábado, 2 de janeiro de 2010

Talibã mata repórter brasileira enviada pelo Canadá

(Foto Michelle Lang numa entrevista)
Por Maura Fraga

Quatro dias após as mortes, em uma explosão de bomba no Afeganistão, os corpos da primeira jornalista brasileira assassinada pelo Talibã e dos quatro soldados canadenses que a acompanhavam foram devolvidos na tarde deste domingo (3) a uma base militar em Trenton, à margem do Lago Ontário, no Canadá.

Michelle era brasileira, segundo a CNN e o jornal em que trabalhava, embora inúmeros veículos internacionais, Repórteres sem Fronteiras e o Comitê de Proteção aos Jornalistas, com sede em NY, a tenham identificado como canadense. No Brasil, os veículos também anunciaram " a morte da jornalista canadense".

Por telefone, neste domingo (3), este Blog procurou informações junto a setores diplomáticos no Canadá, sobre Michelle, inclusive sua naturalidade -em que estado do Brasil nasceu- mas ninguém soube informar. No Brasil, representações diplomáticas não atenderam devido ao feriado. Só voltam a funcionar nesta segunda-feira (4).

Aos 34 anos, Michelle Lang morreu ao lado de quatro militares: sargento George Miok, 28; sargento Kirk Taylor, 28; Zachery McCormack, 21 anos, e Chidley Garrett, 21 anos. Neste domingo, centenas de pessoas esperavam os caixões que foram transportados por cinco carros funerários para a cidade de cada uma das vítimas. O jato militar, com as urnas, percorreu uma longa distância a partir de uma base da Otan na Alemanha.

Antes da partida para a viagem de 10 000 quilômetros, do Afeganistão até o Canadá, houve um ritual religioso em Kandahar Airfield, no núcleo da Missão do Canadá que controla a paz no sul do país asiático. Cerca de 1000 soldados canadenses e centenas de outros das tropas da Otan participaram.

A última viagem

Foi em uma estrada a poucos quilômetros da base de Kandahar, na periferia da cidade, que o veículo blindado com os soldados canadenses e a repórter do "Calgary Herald"- que se ofereceu ao "Canwest News Service" para uma missão de seis semanas no Afeganistão- foi atingido por uma bomba enterrada por insurgentes.

Michelle viajava com uma equipe de reconstrução provincial, a quatro quilômetros ao sul da cidade de Kandahar, quando o ataque ao seu veículo blindado ocorreu. A repórter cumpria a segunda semana de sua primeira passagem no Afeganistão. Antes, nunca houve caso de morte de jornalista brasileiro no país. A missão militar canadense chegou ao Afeganistão em 2002.

Lang foi uma repórter experiente que recebeu um Prêmio Nacional de Jornais em maio passado por coberturas na área de saúde. A quarta-feira foi considerada pelo Canadá como o terceiro pior dia de baixas do país no Afeganistão, superado apenas por dois dias, em 2007, quando seis soldados canadenses morreram em ataques separados.

As mortes dos soldados que acompanhavam Michelle Lang elevam a 138 o número de militares do Canadá mortos no Afeganistão desde o início da missão em 2002.

Michelle Lang chegou à zona de conflito em 11 de dezembro e deveria retornar a Calgary, no Canadá, em 22 de janeiro. Amigos e colegas de trabalho dizem que ela estava louca para sair de Kandahar e escrever suas matérias. Em e-mail ao editor comentou: "Espero produzir algumas histórias interessantes sobre o lado da reconstrução civil , assim como dos militares."

A notícia da sua morte deixou de luto a redação do seu jornal. "Michelle era uma pessoa incrível, e jornalista excepcional", disse Lorne Motley, editor-chefe. Lang foi recentemente contratada para o Calgarian.

Lang trabalhou para Regina Leader-Post, de novembro de 2000 até outubro de 2002, cobrindo agricultura e fez matérias sobre Minas Gerais. Bruce Johnstone seu editor creditou o seu talento à tenacidade para descobrir histórias.

Na quarta-feira, o ex-chefe de defesa pessoal, general Rick Hillier, em saudação a Michelle Lang afirmou: "Aqueles que relatam sobre a guerra, merecem um lugar especial na nossa história".

Os jornalistas que cobrem a missão militar canadense no Afeganistão vivem, comem e trabalham na base com os soldados de muitas nações e são obrigados a seguir as regras militares sobre o que pode e o que não pode ser relatado.

Eles têm a opção de permanecer na base ou viajar para fora, em patrulhas, com as tropas canadenses - uma atribuição que oferece aos repórteres uma visão real de como os civis afegãos comuns lidam com a guerra.

Mas isso é arriscado. No Talibã, as táticas dependem fortemente de bombas enterradas em estradas e viajar pode ser a coisa mais perigosa que se pode fazer no Afeganistão.

Dias antes de sua morte, Lang viajou com o chefe da Defesa Pessoal general Walter Natynczyk, quando visitou bases do Canadá fora do aeródromo. Na quarta -feira, pela primeira vez, foi escalada para uma patrulha regular e estava ansiosa antes de embarcar no helicóptero em que iria ao local da patrulha.

Horas depois, estava andando na parte traseira de um veículo blindado militar em Kandahar, quando houve a explosão que a matou.

No Natal, escreveu no seu blog: "Eu estou atualmente em Kandahar Airfield, na base militar perto de Kandahar, cidade mais conhecida por suas condições de poeira. No momento, as chuvas de inverno transformam o Afeganistão num poço gigante de lama".

"A vida aqui, porém, tem sido consideravelmente mais brilhante graças à decoração de Natal. Muitos soldados dormem seu sono em tendas com luzes de Natal. Uma bicicleta perto da tenda de trabalho possui uma coroa de flores junto ao guidom".


Pelo menos 17 jornalistas de todo o mundo foram mortos no Afeganistão desde os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, de acordo com as estatísticas mantidas pelo Comitê de Proteção aos Jornalistas, organização sem fins lucrativos.

C/ informações da imprensa internacional citada no texto

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá, seja bem vindo! Deixe aqui seu comentário, e não esqueça de se identificar clicando em "Comentar como", e escolhendo a guia "Nome/URL". Grande abraço!