domingo, 23 de agosto de 2009

Uma balzaqueana chamada anistia






Neste domingo, dos 30 anos de anistia no Brasil, resgato o "hino oficial" do movimento, composto por João Bosco e Aldir Blanc, com Elis Regina.

Hoje, lembrei de quando fui procurada por um desconhecido, na editoria política de A Gazeta. Chegou recomendado por Vera, minha prima, militante do RJ.

Chamava-se "Dalton" ( não sei se era nome de guerra), baiano, recém-saído da Frei Caneca. Do presídio que abrigava presos políticos como Perly Cipriano, Nelsinho Rodrigues e outros.

Eu sabia de Perly. Amigo de pessoas que eu amava. E de Nelsinho, porque seu pai, Nelson Rodrigues, havia sido meu colega no Globo e me filava cigarros para escrever crônicas que misturavam futebol e pragas contra os "comunistas". Para ele, aliciadores do filho.

"Dalton" veio com uma missão, na qual me incluiu, e contou o que estava por acontecer. Inclusive sobre a greve de fome idealizada pelo pessoal da Frei Caneca.

Depois disso, nunca mais o vi. Mas o que anunciou se cumpriu não muito depois.

Fui também beneficiada pela lei que me resgatou da discriminação imposta profissionamente pelo fato de ser "fichada" pelos órgãos da repressão.

Proibida de sair do país- sem direito ao passaporte-, não tinha acesso a emprego público, ao registro profissional conquistado dentro da lei, não podia sequer cobrir eventos com presença de presidentes, para não falar de coisas piores como aquelas convocações para depoimentos exaustivos e sem motivos. Vivia sob suspeita.

A anistia ampla, geral e irrestrita chegou às ruas também com o apoio de políticos e pelo fato de os ditadores não poderem mais manter as restrições ( eram cobrados internacionalmente). Mas temos que reconhecer: os heróis da história foram os presos da Frei Caneca e de outros presídios que, em cadeia ( sem trocadilho), chamaram à atenção do mundo para a fome de liberdade- título afinal do livro de Perly.

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