domingo, 21 de março de 2010

Passeata chocha

(De Danuza Leão)

Mesmo não tendo nascido no Rio, sou louca por essa cidade; e quem não é? Moro aqui desde que me entendo por gente, e ainda hoje, quando passo pelo aterro e vejo a igreja da Glória e o Pão de Açúcar, me deslumbro, como se fosse a primeira vez.

Chegando à Lagoa -na frente, o morro Dois Irmãos, à direita o Cristo Redentor- e voltando da Barra, vendo um mar depois do outro (porque são vários, e todos diferentes), a garotada surfando ou voando de asa delta, ainda penso, a cada vez: "mas que cidade linda". A mais linda de todas, apesar dos pesares.

Não é preciso dizer o quanto torço por ela, claro -e quem não torce?-, mas não vou entrar na discussão sobre se os royalties do petróleo são da União ou só dos Estados do Rio, de Minas e de São Paulo, porque não entendo do assunto. Sei que se nosso Estado ficar mais pobre ficarei desolada, triste, indignada, mas não será caso propriamente de chorar.

Agora, a passeata. Será que alguém acreditou que o povo tenha, "espontaneamente", mandado fazer as faixas, bandeiras e camisetas falando da "covardia" contra o Rio?

Quem teve a grande ideia de usar essa palavra -ridícula, por sinal- deveria antes consultar o dicionário para ver que "covardia" não tem nada a ver com o assunto.

Para quem viu pela TV ou prestou atenção às fotos dos jornais, ficou claro que a avenida Rio Branco não bombou, mas não bombou mesmo.

Nada nem de longe parecido com a vibração da passeata contra Collor ou a animação do cordão do Bola Preta, que no último sábado de Carnaval botou na rua 1 milhão de pessoas, isso às 9h da manhã.

Deve ter custado caro, essa passeata tão chocha, isso numa hora em que o Estado deveria estar economizando, só que não rolou; não rolou, como costuma acontecer quando as coisas não são de verdade.

Aliás, se existe alguém que decididamente não nasceu para levantar as massas, é o nosso governador.

( Publicado neste domingo (21) no jornal Folha de S. Paulo)

O Blog: Danuza nasceu no Espírito Santo, mas não cita o estado nesta crônica como seu berço, nem tão pouco como prejudicado pela emenda que trata da partilha dos royalties. Fala em Minas, que não tem mar, nem o petróleo, e diz que não conhece bem o assunto. Em se tratando de Danuza, uma mulher cuja história se confunde com a própria história do país- foi casada com Samuel Wainer- perdemos uma influente aliada. Por que será?

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