domingo, 12 de julho de 2009

Por que nossos jornais não têm obituários?

Os jornais de Vitória não têm seções de obituários.

Noticiam o falecimento de nomes ligados à política, poder econômico, às vezes a certas áreas de influência da sociedade.

Ignoram o cidadão comum: a professora que instruiu centenas de alunos, o médico que salvou vidas por décadas, o operário sem títulos, o comerciante, o artista sem refletores, gente que constrói a verdadeira história de uma comunidade.

Interessada em se espelhar na grande imprensa, a imprensa local não vê que os grandes jornais do país e do mundo, por tradição, mantêm o obituário em suas páginas.

Na redação de O Globo, tive colegas talentosos que gastavam horas ligando para cemitérios do Rio de Janeiro, para depois escrever mini-biografias de anônimos. Por recomendação do patrão, Roberto Marinho, o jornal só não divulgava suicídios porque ele achava que inspiravam outros.

O Jornal do Brasil mantém o seu obituário: pequenas notas de falecimento que podem ser ampliadas de acordo com o histórico da pessoa.

O Estado de S. Paulo tem uma seção fixa e a Folha de S.Paulo investe na publicação diária de um obituário criativo, como os publicados nos jornais ingleses e americanos, em especial no jornal The New York Times.

A Folha considera a publicação das notas uma tradição e um serviço prestado à comunidade.

O espaço gratuito pode ser usado para informar qualquer falecimento, a pedido direto dos familiares ou amigos. A responsável pelos anúncios garante que “todas as notas enviadas são publicadas”.

Para o redator da seção na Folha, lembrar das coisas que a pessoa fez deixa bem os familiares e o obituário acaba sendo um conforto a mais.

Em 2008, The New York Times lançou " O Livro das Vidas- Obituários do New York Times", traduzido para o português pela Cia. das Letras, coletânea dos seus famosos obituários.

Uma lição para a imprensa sobre a importância de não ignorar a sociedade que a mantém viva quando repassa ao anunciante- direta ou indiretamente- o dinheiro com que ele compra espaços nos jornais.

Os jornais que têm obituários também oferecem anúncios pagos para notícias fúnebres, logo, não há prejuízo comercial.

E se a dificuldade é escalar um profissional que tope a parada, vale lembrar: até Gay Talese durante um ano trabalhou na seção de obituários do The New York Times.
C/Informações de outros.

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