terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

E o meu chefe criou o estandarte de ouro


Hoje em dia, todo branco cai no samba, mas nem sempre foi assim.

Havia o preconceito enraizado contra o morro, menos para Roberto Paulino, meu chefe de reportagem no jornal O Globo, no Rio, para quem esse tipo de sentimento estava descartado.

Um homem bonito, de modos gentis, só pensava na Mangueira. Aliás, era a própria Estação Primeira. Se não vestia rosa, trazia uma das cores da escola na cara: os olhos verdinhos.

Gostávamos do seu jeito de trabalhar, mais ainda da sua história. Seu melhor amigo, Miranda, era um rapaz negro, alto, também muito elegante, repórter de geral.

Este ano, Roberto Paulino foi eleito presidente de honra da Mangueira. Assume o lugar de Jamelão, puxador de samba falecido. Como dizem os espanhóis: "Vida longa ao Rei !".

No livro autobiográfico "Do Country Club à Mangueira", Roberto Fernando Paulino Ludolf Soares- este é o seu verdadeiro nome- conta a história do menino criado no prestigioso Colégio Santo Inácio, e no Country Club, eleito presidente da Mangueira aos 24 anos.

Criou a Ala das Baianas, com Dona Neuma, depois a Ala das Crianças e a Comissão Feminina de Frente. Fez uma revolução na verde-e-rosa que se tornou duas vezes campeã, nos anos 60.

Com tanta paixão pelo samba, Roberto Paulino só podia oferecer mais ao Carnaval do Rio de Janeiro, o melhor do Brasil. Num momento de inspiração, no bar da esquina que todos frequentávamos, embaixo da redação do Globo, idealizou com Heitor Quartin- meu chefe depois, no Segundo Caderno-, o Prêmio Estandarte de Ouro, concedido pelo Globo aos melhores da avenida.

Pensando bem, Roberto não cedeu apenas as instalações da Companhia de Cerâmica Brasileira, fundada por Américo Ludolf - que também fundou a Firjan com Euvaldo Lodi e Guilherme Guinle- para os ensaios da Mangueira, na sua juventude. Cedeu o próprio coração, pois o amor, correspondido, ultrapassa meio século.

Como hoje é dia de recordações, aquele rapaz da Mangueira, amigo de Roberto Paulino, que chegou à redação devagarzinho, tornou-se um jornalista internacional. Falo de Tim Lopes, meu companheiro na Banda de Ipanema (
costumava ir lá em casa para sairmos juntos) , com pouca ginga e muita coragem.

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