Steven Spielberg o definiu como “o Shakespeare pictórico”. Morto em 1998, Akira Kurosawa completaria nesta terça-feira (23 de março) 100 anos de vida e o acontecimento traz à luz uma das filmografías mais apaixonantes e profundas da história do cinema.
Conhecido no ocidente sobretudo por suas histórias de samurais, o mestre japonês deixou para a posteridade títulos tão emblemáticos como Rashomon, Os sete samurais, Trono de Sangue, Dersu Uzala, Ran e Os sonhos. Muito influenciado pelo cinema e narrativa ocidental, John Ford e o próprio Shakespeare foram seus ícones, a obra de Kurosawa segue brilhando pela força de seu humanismo e a beleza plástica de suas imagens.
Ao final de Trono de sangue (1957), adaptação de Kurosawa de Macbeth, se assegura que “tudo aquilo conseguido mediante o mal, termina mal”. A frase poderia resumir a perfeição e o espírito da obra de seu autor, um cineasta que uma ou outra vez mostrava a dicotomia entre a vilânia e a bondade. Se trata de mostrar como os seres humanos podem escolher entre uma e outra as incalculáveis consequências que tem essa eleição sobre eles e os outros.
A conhecidíssima história de Os sete samurais, onde os desvalidos membros de um povo devastado pela brutalidade de bandidos recorrem a mercenários para que os salvem, resume a contínua batalha muito próxima da sensibilidade ocidental. E explica em parte porque Kurosawa- e não Kenzi Mizoguchi ou Yasujiro Ozu, artistas que alcançaram sua mesma profundidade artística- acabou por converter-se no diretor japonês mais célebre e popular fora de suas fronteiras.
O humanismo de Kurosawa com qual milhões de espectadores se identificaram surge em Rashomon (1950), ganhador de um Leão de Ouro no Festival de Veneza, quando um dos protagonistas assinala que “um demônio quis viver entre os humanos para observar como eram e voltou ao inferno completamente assustado". Ao final, o choro de um bebê abandonado e generosamente adotado por outro dos protagonistas, devolve, textualmente, “a fé e a esperança no ser humano".
A dimensão moral, e por que não, moralista do mestre é um dos pilares essenciais de sua filmografia. A dimensão estética é outra. Começou a trabalhar como pintor e ainda que não tenha sido aceito na Escola de Belas Artes, essa vocação pode ser detectada de forma evidente em seus filmes. A obsessão pela beleza visual lhe deu a reputação de ser um cineasta doentiamente perfeccionista, conhecido por "Imperador" por suas formas ditatoriais.
Os mesmos motivos pelos quais alcançou um importante lugar no coração dos ocidentais lhe valeram o desprezo e as críticas dos compatriotas, durante a II Guerra Mundial. Kurosawa foi um grande adaptador ao contexto japonês de grandes obras européias e americanas.Trono de sangue é adaptação de Macbeth. Ran, uma versão do Rei Lear. Também fez versões de O Idiota de Dostoievsky e de obra de Gorky. O inferno do ódio se baseia em uma novela negra do escritor americano Ed McBain e Yojimbo (O mercenário) está inspirado en Dashiell Hammet.
Foi na década de 50 que Kurosawa desenvolveu a técnica cinematográfica que o fez famoso e chegou a ser imitado por George Lucas em Guerra das Estrelas. Ele confessa ter sofrido influência de John Ford. Em Rashomon narra um mesmo assassinato a partir de quatro perspectivas completamente distintas entre sí, algo habitual hoje em dia mas que na época foi considerado revolucionário.
Desde então, essa multiplicidade de olhares sobre um mesmo acontecimento, com que Kurosawa aspira a alcançar o ideal shakespeariano de ser “poeta de poetas", foi conhecida como “efeito Rashomon” e a influência foi decisiva em cineastas como Tarantino, Robert Altman ou Paul Thomas Anderson.
Trata-se do adeus cinematográfico ao narrador onisciente e ao princípio da subjetividade no cinema, mediante a introdução definitiva dos saltos temporais e a consolidação do fragmentário e caótico na até então hiperestrutura narrativa cinematográfica que Kurosawa converteu em antiga.
Trata-se do adeus cinematográfico ao narrador onisciente e ao princípio da subjetividade no cinema, mediante a introdução definitiva dos saltos temporais e a consolidação do fragmentário e caótico na até então hiperestrutura narrativa cinematográfica que Kurosawa converteu em antiga.
Akira Kurosawa ganhou com Rashomon o Leão de Ouro, em Veneza; com Os sete samurais, o Leão de Prata também em Veneza; com Ran, sete indicações ao Oscar; com Dersu Uzala, o Oscar de melhor filme estrangeiro, e em 1990 o Oscar pelo conjunto de sua obra. Em 1998, morreu em Tóquio.
C/ El Mundo
O Blog: Este post é uma homenagem ao meu amigo e irmão Amylton de Almeida, que me ensinou a amar Kurosawa desde que sentou ao meu lado para me apresentar um filme intitulado "Viver". Tempos depois, em sua própria vida reproduziria o tema dessa obra considerada a mais bela de Kurosawa, embora pouco lembrada. Hoje, como Kurosawa, Amylton, um dos maiores críticos de cinema do país, não mora mais aqui. Os seus ensinamentos, porém, ficaram. Que saudade!
C/ El Mundo
O Blog: Este post é uma homenagem ao meu amigo e irmão Amylton de Almeida, que me ensinou a amar Kurosawa desde que sentou ao meu lado para me apresentar um filme intitulado "Viver". Tempos depois, em sua própria vida reproduziria o tema dessa obra considerada a mais bela de Kurosawa, embora pouco lembrada. Hoje, como Kurosawa, Amylton, um dos maiores críticos de cinema do país, não mora mais aqui. Os seus ensinamentos, porém, ficaram. Que saudade!
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