Em 1963, um camareiro do Hotel Havana Livre guardou com esmero no congelador uma cápsula de botulina para colocar em uma batida de chocolate que seria oferecida a Fidel Castro. Resultado: quando chegou o momento, a cápsula estourou no congelador e caiu por terra o plano chamado Operação “Lucrécia Bórgia".
Anos mais tarde, Marita Lorenz, uma mulher que havia mantido uma relação amorosa durante oito meses com Fidel, é cooptada pela CIA para contactar o líder cubano, envolvê-lo e envenená-lo em um hotel. Resultado: Marita não se atreve e atira o veneno no lavabo.
Anos antes, em 1958, um mercenário chamado Aller Robert Nye, agente secreto do FBI, procura infiltrar- se nas fileiras revolucionárias de Castro para matá-lo a queima- roupa, por um punhado de dólares. Resultado: é investigado, descobrem seu objetivo e o expulsam do país.
Essas tentativas de assassinato fracassadas contra Fidel Castro são apenas três de tantas registradas no livro de Fernando Klein: "Objetivo: Fidel Castro" da Editora Ipunto ( lançado na Espanha).
A investigação baseada em documentos da CIA, entre 1953 e 1973, e em entrevistas com castristas e anti-castristas destaca que houve 638 tentativas de assassinato contra Fidel Castro idealizadas pelo governo dos EUA e grupos cubanos opositores.
Segundo Klein, todos os presidentes dos Estados Unidos a partir de Eisenhower estiveram envolvidos em algum tipo de atentado contra Castro, desde Kennedy até Clinton, passando por Johnson, Nixon, Carter, Reagan, e Bush (pai).
"Há muitos complôs que já se sabíam, o que não se conhecia até agora é que a CIA e o FBI confabularam com a máfia italiana norte-americana, que teria interesses em Cuba como cassinos e hotéis durante o período de Fulgêncio Batista”, explica o autor.
Entre os gangsters contactados pelas agências dos EUA, figuram Sam Giancana, que pertencía ao grupo de Al Capone; seu sócio John Rosselli; Santos Trafficante, dono do Cabaré Sans Souci em Cuba, e Tony Varona, que em Miami dirigía a organização contra-revolucionária Resgate Revolucionário Democrático.
Nos anos 60, idealizaram planos como o projeto ZR Rifle, a operação Patty, a Operação Mangosta, o Plano Libório. Um pouco mais tarde, em 1997, se executou a Operação “Esperança”, que levou homens armados até os dentes à Ilha Margarita, onde se encontrava Castro em reunião de mandatários. Os navegadores foram interceptados em Porto Rico por suspeita de narcotráfico. Um dos tripulantes, para se defender, confessou que as armas que estavam com eles eram para matar Fidel Castro.
Alguns complôs buscavam que o líder caísse com a deterioração de sua imagem. Nestas conspirações foi que se pensou em drogá-lo com LSD antes de uma entrevista televisiva ou, em outra ocasião, criar um meio de fazê-lo perder a barba e, como Sansão, a força.
Mas, ainda que uns pareçam extraídos de um livro de John Le Carré e outros dos desenhos animados com explosivos marca ACME, nenhum dos planos teve êxito. “Se salvou porque existe o fator sorte, o fator medo e por causa do contexto em que se perpetuaram os atentados: Fidel estava em pleno apogeu”, opina Klein.
O livro também analisa o que houve antes da revolução cubana, como Castro chegou ao poder, o que se passou durante décadas. “Como todos os regimes autocráticos, o livro gira em torno de um líder: não se pode falar da revolução cubana sem falar de Fidel" explica Klein e acrescenta: “A visão que dou não é de que tudo foi mal ou de que foi bem".
O que houve houve nos primeiros anos pode ser legítimo, porque o governo de Fulgêncio Batista era um desastre, se dizia que era um prostíbulo, o cassino ou a parte de trás dos Estados Unidos, aí é que aparece Fidel Castro".
O autor também procura projetar o que virá: "O mais interessante é como vai terminar isto. Há as damas de Branco, Orlando Zapata e Guillermo Fariñas, são as pessoas que tomaram a bandeira. O final entra na categoria do ditador e o regime que morre de velhice. Há que se pensar nos cubanos que chegarão de fora, vai ser algo feroz. Cuba será a ilha do Caribe a que todo mundo quererá ir pela mudança brutal que seguramente haverá" conclui.
Certamente, o futuro de que fala o autor está bem próximo, porque Castro não goza mais de saúde e seus contestadores têm conseguido o que parecia impossível: tornarem seus protestos conhecidos no mundo, a partir da ilha, agora usando a rapidez e amplo alcance das comunicações digitais (Com informações do El Mundo)